Educação
Três cidades da Zona Sul têm escolas ocupadas
Pelotas, Canguçu e Rio Grande representam 11 das 42 instituições de ensino do Estado que recebem os atos dos estudantes
O apoio dos alunos à greve dos professores da rede estadual de ensino não para de crescer. Até o começo da noite desta terça-feira (17), já eram 42 escolas ocupadas pelos estudantes no Rio Grande do Sul; 11 dessas instituições localizadas na Zona Sul. E a tendência segue a mesma: a cada dia, novos jovens devem se juntar ao movimento, em atos públicos como o realizado também na colônia de Pelotas, onde alunos da Escola Marechal Rondon - no distrito de Monte Bonito - já cogitam deflagrar greve. Amanhã, a mobilização deve chegar à Escola Monsenhor Queiroz.
No Colégio Dom João Braga, ocupado desde a noite de segunda-feira, a quarta-feira será marcada por atividades culturais. À tarde, haverá sarau de poesias e apresentações de voz e violão. E, de novo, com momento reservado ao debate. Desta vez, sobre o tema Cultura e democracia. "É fundamental que a gente aproveite este momento para formação cidadã. É muito importante que exista compreensão do que significa participar desta ocupação", reforça a professora de Português, Literatura e Seminário Integrado, Eunice Couto, uma das profissionais que os acompanhou nas primeiras horas de mobilização.
Neste terça, cartazes com frases, como Mais verbas para escola e Mais valorização para educação ajudavam a demarcar posição. Discussões sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o sistema de cotas, visitas em salas de aula para explicar os porquês do manifesto e buscar novos adeptos e a elaboração do Código de Conduta da ocupação foram as principais atividades desenvolvidas. Sempre baseados em um princípio: Lembrar de agir em coletividade. Está na lista das dez regras afixadas na parede do auditório, onde estão concentrados.
União de esforços
Os estudantes que ocupam o Instituto de Educação Assis Brasil (IEAB) concentram esforços na organização de uma caminhada, possivelmente realizada amanhã à tarde. A intenção é unir forçar com alunos de outras instituições, como Cassiano do Nascimento e Monsenhor Queiroz. A fase, terça pela manhã, era de articulação. Um mutirão de limpeza também estava programado para começar.
Paralisação de alunos
Uma greve por tempo indeterminado já é cogitada pelos alunos do Ensino Médio da Escola Marechal Rondon, no Monte Bonito, interior de Pelotas. A estratégia está definida: forçar que os professores que não aderiram à paralisação da categoria tenham de interromper o trabalho. "Sem alunos não haverá aulas", resume a estudante do 3º Ano, Flávia Moreira, 16. Seria o jeito de dar peso ao movimento contra o parcelamento dos salários dos profissionais da Educação e pela liberação, em dia, dos repasses de verbas da autonomia financeira das escolas. E mais: seria instrumento para evitar que tenham de se deslocar até a aula para ter apenas parte das disciplinas, ministradas por quem decidiu não fazer greve.
Nesta terça-feira, os jovens realizaram, inclusive, ato em frente à instituição para reforçar o coro de Essa luta também é nossa. Por cerca de três horas, os alunos fizeram bloqueios no trânsito. Só liberavam carros e caminhões a cada intervalo de 15 a 20 minutos.
Novas ocupações pela Zona Sul
- Em Canguçu: Estudantes da Escola Técnica Estadual de Canguçu (ETEC) também entraram para lista das instituições ocupadas no Estado. Aproximadamente 30 alunos do Politécnico estão engajados na manifestação, desencadeada na segunda-feira. Um cronograma de debates também está previsto. Nesta terça, o documentário A revolta dos pinguins - sobre a luta dos secundaristas chilenos contra o sistema - fomentaria as discussões.
- Em Rio Grande: A escola de Ensino Médio Lemos Júnior tornou-se a oitava instituição ocupada em Rio Grande. Os jovens dormiriam a primeira noite no local e já haviam garantido acesso a banheiros com chuveiro. O movimento é desencadeado em um cenário, onde cerca de 50% dos professores não desejam parar. O desafio é assegurar o direito das duas partes - destaca a vice-diretora do turno da tarde, Márcia Castro.
Interrupção do transporte segue na pauta
A retomada do transporte escolar a 16 instituições da rede estadual, de quatro municípios da região (Canguçu, São Lourenço, Arroio Grande e Pinheiro Machado), segue indefinido. Uma reunião na tarde desta terça, em Pelotas, colocou lado a lado representantes da Secretaria Estadual de Educação, da 5ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e dos empresários, que reivindicam a quitação dos serviços prestados desde março, sem pagamento.
O diretor administrativo-financeiro da 5ª CRE, Carlos Humberto Vieira, garante que o tema é tratado como prioridade. A liberação de recursos dependeria, entretanto, de os empresários efetuarem ajustes na quilometragem rodada, itinerário a itinerário. "A cada aluno que entra, sai ou troca de localidade é preciso ajustar os roteiros e, até abril, ainda tínhamos estudantes da zona rural se matriculando", argumentou.
A expectativa é de que até o final deste mês se chegue à solução.
Balanço geral e impasse instalado
Até amanhã, integrantes do 24º Núcleo do Cpers-Sindicato realizam visitas a escolas da região, para novo chamamento da categoria. A avaliação geral depois de horas de discussões, na tarde de terça, é de que o movimento segue em expansão. Nesta quarta, por exemplo, haverá concentração em frente à Escola de Ensino Médio Areal, a partir das 17h.
O encontro do Comando de Greve com membros do primeiro escalão do Governo, em Porto Alegre, encerrou sem avanços. "É o que sempre ocorre na primeira mesa de negociação. O governo espera o esvaziamento do movimento, mas a nossa perspectiva é boa. Mesmo com o anúncio do corte do ponto, o pessoal não se intimidou", resume o coordenador do 24º Núcleo, Mauro Amaral. Para o secretário da Casa Civil, Márcio Biolchi, foi uma reunião importante para desfazer a tensão entre as partes e prestar esclarecimentos, mas sem fugir da realidade financeira do Estado. Na prática, é como dizer que não há verba para conceder reajuste e manter os salários em dia.
Confira o levantamento da 5ª CRE
- 42 escolas parcialmente paralisadas
- 28 totalmente paradas
- 37 com atendimento normal
- 16 escolas sem aulas devido à interrupção do transporte escolar
- 3 escolas ocupadas pelos alunos. As outras oito escolas com ocupação, em Rio Grande, estão vinculadas à 18ª CRE
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